domingo, 22 de abril de 2012

O DEUS TEMPO

O homem tem medo do tempo. Do tempo que não tem passado, presente e futuro. Do tempo absoluto.
O tempo não tem relógio. Não se submete a medições. Não se confina em idades e épocas. O tempo existe. É presente desde sempre. Incomensurável. Invisível e impalpável, ilimitado e indefinível. Não teve começo e não terá fim. Sempre presente. Dia, mês, ano, século, milênio são limitações que a finita mente humana tentou impor ao tempo. são divisões incongruentes de algo que não admite divisão, parcelamento, enquadramento.
O tempo é eterno, é como se fosse deus. Inclinado, como um ser supremo que se basta a si mesmo. Em sua relação com o tempo, o homem se sente finito, criado, medido, calculado, dividido e diminuído.Em sua finitude, procura se superar, tentar conquistar - não o espaço, pois percebe que é inatingível - o tempo para si, todo o tempo, o tempo infindo e infinito.
Em sua finitude, lança mão de estratagemas que lhe permitam pelo menos entender sua função no tempo, sua relação mais ou menos longa com ele, sua eternidade acompanhando-o ou sua parada brusca e irreversível no mesmo.
Em sua finitude, em sua incapacidade de vislumbrar um possível domínio do tempo, o homem se volta para o oculto, o misterioso, o divino, mas um divino companheiro, um divino acessível, comunicativo, que desvende os arcanos do tempo, desse tempo que, segundo o homem, varre a eternidade inteira com sua presença implacável e despótica.
Começa aí a inversão de valores ante o desconhecido, ou seja, o forte prevalece sobre o fraco e este é aquele que desconhece a existência real, portanto proclama deus o desconhecido diante o temor em não conhecê-lo, dar-se início as mais variadas interpretações de contextos distintos e um consenso, paradoxo.
E o homem encontra resposta, embora tênue, sofrível, nebulosa, quando não incompreensível e caótica, no divino e em seus mistérios. Mas é uma resposta. No afã de chamar apara perto de si a divindade, multiplica as formas, conferindo-lhe mil e uma fisionomias, semblantes ora agradáveis ora terríveis, emprestando-lhe atributos reveladores do tempo e dos tempos, da eternidade e das eternidades.O divino - que o finito ser humano coloca lá em cima, para além do espaço e talvez para além do tempo - baixa até o homem e este se eleva com ele. pelo menos é o que ele pensa ou será pura ilusão.

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